"Jornal César Leite": estratégia de estímulo à leitura e à escrita

Em nossa coluna das edições anteriores, abordamos vários tópicos da área da psicopedagogia que interessam aos nossos leitores pais e professores. Na última edição, tratamos dos conflitos existentes entre as gerações, sociologicamente, denominadas Geração X, Geração Y e Geração Z (ou Nativos Digitais). Tais conflitos permeiam os espaços educativos como o familiar e o escolar. Nesta edição, diferente do que já realizamos anteriormente, trazemos à discussão o tema “Estratégias de estímulo à leitura e à escrita” que será feita de forma dinâmica, através de um diálogo com a professora Edriana Rocha, Mestra em Língua Portuguesa (UFS), organizadora do livro Texto discurso e ensino: reflexões e propostas, em parceria com professora Drª Márcia Mariano (UFS). Atualmente leciona nas escolas estaduais Dr. Augusto César Leite e Dr. Airton Teles (Itabaiana-SE).

É possível o professor ou a professora abrir portas para a motivação da leitura e da escrita para alunos que, hoje, vivem imersos no mundo virtual digital, no qual realizam leituras relâmpago e onde predomina a escrita abreviada e sucinta?

Nas minhas andanças pelo ensinar, após muito ler, pesquisar e aplicar métodos diferenciados de ensino, encontrei pelo menos duas respostas que direcionam hoje a minha prática. Primeiro, é preciso que os estudantes descubram o sentido da leitura e da escrita fora dos padrões clássicos da escola; é preciso que saibam por que, para que, para quem escrever. Se escrevem um e-mail, por exemplo, é preciso saber para quem vai escrever, pois necessita escolher a variedade linguística adequada. Se escrevem para um colega, podem-se usar palavras reduzidas, abreviadas, com emoticons. Porém, se o destinatário for o diretor de um hospital, usa-se a língua padrão. Segundo, é preciso fazer o texto produzido pelo estudante circular em vários espaços físicos e digitais. Produzir textos, nessa perspectiva, leva o aluno a adquirir consciência de que seu texto será lido, e isso chama-o à responsabilidade, estimula-o a ler outros textos, a tirar dúvidas sobre questões gramaticais, ortográficas e de pontuação e, principalmente, deixa-o orgulhoso e confiante por se reconhecer autor do texto divulgado. “E como fazer esses textos produzidos circularem? Há vários recursos à disposição: mural, fanzine, blog, grupos e páginas do Facebook, jornal escolar, etc. Particularmente, recorro ao jornal escolar, desde 2001, que tem se mostrado altamente produtivo, pois ressignifica o ato de ler e de escrever na escola. A recente experiência com o Projeto Jornal César Leite (desde 2014) tem proporcionado aos estudantes do C. E. Dr. Augusto César Leite a descoberta de suas potencialidades. Várias habilidades das áreas cognitivas, afetivas, psicossociais são estimuladas na produção de um jornal. Prova-se, assim, que esse recurso não só motiva bastante o aluno, mas também o desafia a ler e a escrever textos jornalísticos, como artigos de opinião, entrevistas, editoriais, reportagens, charges, etc., e textos literários. Na Seletiva de Poema, Prosa e Desenho do Jornal César Leite, sessão do jornal mais esperada por todos, muitos estudantes despertaram para a produção literária, inclusive com participação nas Antologias Literárias da Loja Maçônica Cotinguiba. Além disso, a Seletiva revela os desenhistas de mão cheia que se escondem atrás do “menino que não quer nada”. Como resultado, observamos alunos mais confiantes e altivos por terem participado, de algum modo, da produção do jornal, o qual passa a circular dentro e fora da escola, já que os estudantes co-organizadores distribuem exemplares, também, em outros espaços e em outras escolas da rede. Sem dúvida alguma, o jornal escolar é uma ferramenta valorosa de incentivo à leitura e à produção de textos na escola.”

Finalizamos essa matéria destacando que a falta de motivação não é traço característico da geração nativos digitais. O imediatismo dessa era e a facilidade de acesso rápido à informação, impulsionados pela evolução das tecnologias digitais da informação e comunicação (TDIC), contribuem para que haja menos interesse pela leitura e pela escrita. No entanto, eleger a internet e as novas tecnologias como vilãs da ausência dessa motivação não é a solução. É preciso pensar atividades de leitura e de escrita motivadoras para que estudantes reconheçam o valor e o sentido do ler e do escrever. Para isso, o verdadeiro “ensinante” procura tanto trabalhar com a realidade em que está inserido, quanto buscar meios para que seu “aprendente” descubra significados sociais de uso da língua escrita, por meio de atividades significativas de leitura e de produção de textos, e descubra-se sujeito-autor.

Estudantes e professores lendo o Jornal César Leite

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Alunos do ensino fundamental reunidos para definir a edição 2017 do Jornal César Leite

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