Autoritarismo e autoridade: o que deve prevalecer na sala de aula?

A nossa memória coletiva não nos deixa esquecer dos tempos em que a educação escolar pautava-se no autoritarismo. Quem não lembra da época da palmatória? Nossos pais e avós vivenciaram esses tempos, nos quais a relação professor / aluno sustentava-se naquele como sendo o detentor do saber e neste como um sujeito passivo. Nessa relação, o estudante não participava ativamente na construção do conhecimento, pois este já vinha pronto. Hoje, em decorrência de vários fatores, não se concebe esse tipo de relação dentro da escola. Para que o processo ensino aprendizagem flua com eficácia, um dos fatores preponderantes é a autoridade do professor. A questão, porém, é se essa autoridade está sendo praticada ou se não está sendo confundida com permissividade ou com ausência de normas. Para entender melhor, é preciso abordar brevemente os conceitos de autoritarismo e autoridade.

O que seria então uma relação de ensino aprendizagem baseada no autoritarismo e na autoridade? O autoritarismo caracteriza-se pela imposição de uma ordem que fere o outro, desrespeitando-o em sua dignidade. Assim, a relação se constrói pelo medo e não pelo respeito. Uma postura autoritária apoia-se em um sistema hierárquico de poder, em normas impostas sem argumentação, exigindo aceitação incondicional de todas as regras, tornando o sujeito aprendiz muito submisso ou mesmo subversivo a ponto de ser excluído do sistema.

Já a autoridade baseia-se no respeito ao outro, na construção de normas que garantam uma relação humana fluida, produtiva para ambas as partes, tanto para o aluno quanto para o professor em sala de aula. Ao se construir esse tipo de relação na escola, o professor torna-se líder, mediando o processo ensino aprendizagem, de modo a garantir ao aluno não só conhecimentos específicos das diversas áreas, mas também aquisição de valores que o ajudarão a viver e conviver harmonicamente em sociedade. Usar de autoridade exige também a definição de limites, baseados em argumentos claros: o que o aluno pode e o que não pode fazer, levando em conta o contexto, a situação, enfim, o outro.

A autoridade caracteriza-se, dessa forma, pelo não uso da força, nem da violência; pelo respeito ao outro; pelas regras, as quais devem estar presentes, porém, não de modo impositivo, pois sustenta-se em explicações e argumentos plausíveis sobre sua existência, fazendo com que o estudante encontre sentido naquilo que está sendo exigido. Desse modo, o próprio aluno torna-se sujeito construtor de sua liberdade, responsabilizando-se por suas ações. Como diz Emile Durkheim (2009), “não é possível educar sem autoridade”.

Como se sabe, a sala de aula é um ambiente de circulação de informações. Nessa era de grandes avanços, especialmente, nos meios de comunicação e informação, os estudantes detêm, inclusive, informações que os próprios professores não possuem. Mas as crianças e adolescentes precisam desse mesmo professor, usando de sua autoridade para mediar também a relação com o conhecimento e com a sua própria aprendizagem.

Destaca-se que as novas estruturas familiares e a valorização da juventude como algo almejável, desvalorizando a condição de adulto, contribuíram para uma liquidez da autoridade nas relações vivenciadas pelos estudantes. É comum veem-se pais que não querem ser vistos como repressores dos filhos, mas, sim, como amigos muito próximos ou até mesmo irmãos dos próprios filhos. Como isso, o filho passa a não ter um representante de conduta, ficando sem um referencial de pais. Mãe e pai devem agir como mãe e pai, pois o reflexo dessa ausência de postura se propaga na escola, gerando, inclusive, indisciplina que interfere negativamente na aprendizagem. Tanto pais quanto professores devem, portanto, usar de autoridade sem distorcer seu conceito, sem vê-la como bloqueio da liberdade do aluno, muito menos como perda da autonomia do indivíduo. Os pais e a instituição escolar precisam também valorizar o docente, apoiando suas ações e atitudes, a fim de fortalecer sua autoridade em sala de aula para o bem maior: a eficiência da aprendizagem dos educandos.