Liniker e os Caramelows e As Bahias e a Cozinha Mineira vêm remontar a MPB

Liniker e os Caramelows

Liniker apareceu no final de 2015 com o lançamento na internet de um EP com três musicas (Cru) e alguns vídeos com apresentações ao vivo. Foi o suficiente para cativar o público e chamar a atenção para a desconstrução do conceito tradicional de gênero, alcançando mais de 5 milhões de visualizações e uma agenda de shows lotada. Agora a artista que se identifica pelo gênero fluido (ao mesmo tempo masculino e feminino) e se permite o uso dos dois artigos, lança seu primeiro disco, um tributo ao que há de melhor na Soul Music nacional, nos proporcionando uma viagem pelo suingue dos anos 1960, 1970 e 1980 e remetendo a grandes nomes como Tim Maia e Cassiano. Além disso, é impossível não lembrar de Ney Matogrosso que foi o primeiro a questionar padrões de gênero em uma época de forte repressão e censura. A voz de Liniker é igualmente fluida, indo facilmente de tons muito graves à agudos delicados, sem perder a potência e a afinação. Na faixa título, ele manda o seu recado e mostra a que veio: “remonta o amor”, “remonta a dor”, mas parece também que ela veio para remontar o cenário musical brasileiro trazendo um frescor e uma originalidade no seu som e na sua postura. Em Músicas como “Caeu”, “Tua”, e “Sem Nome, Mas com Endereço”, o artista fala de amor de uma forma simples, mas visceral, brincando com metáforas do cotidiano e frases que ficam na cabeça não por serem “chiclete” mas pela força do sentimento contido nelas (“Nossa como a gente encaixa gostoso aqui”). Em “Zero”, o grande destaque do álbum, a compositora mostra mais desse romantismo e sensualidade acompanhado por um arranjo bastante suingado e muito bem executado pelos excelentes Caramelows, entoando o verso “deixa eu bagunçar você”, Liniker realmente pode promover essa bagunça na nossa mente, mas uma bagunça boa, em que a gente pede mais. Liniker e os Caramelows fazem parte de um novo grupo de artistas que está surgindo na MPB e vêm para dar força e visibilidade as sociais e de gênero no Brasil.

As Bahias e a Cozinha Mineira

Outro bom exemplo é a banda As Bahias e a Cozinha Mineira, liderada pelas cantoras transexuais baianas Assucena Assucena e Raquel Virgínia e composta pelos músicos mineiros Rafael Acerbi, Carlos Eduardo Samuel, Rob Ashtoffen.  O recém-lançado álbum de estreia da banda, Mulher (2015), traz mensagens de empodeiramento feminino e retrata várias questões sociais comuns a mulheres de todas as regiões do país, embalados por uma mistura de ritmos brasileiros e um toque de blues, jazz e Soul. O som da banda e a interpretação das cantoras, remetem a grandes nomes da MPB, como Gal Costa e Chico Buarque. Entre os destaques estão Apologia Às Virgens Mães, Josefa Maria, Uma Canção Pra Você e Comida forte.