Minha frustada condição de pessedista

Já nasci pessedista. Explico. Meus  pais eram eleitores de Manoel Teles. Embora me recorde de alguns poucos lances da eleição, para governador, de 1954, só tomei real conhecimento de minha condição de pessedista na de 1958. O retrato de Zé Leite foi pregado na parede da sala onde mamãe costurava e se ouvia rádio. Àquela época, os pessedistas eram chamados de cara branca, e os udenistas, de cara preta. Até hoje não sei o motivo. O certo é que, a eleição de 1958, enfim, representou o meu  batismo na política sergipana vestindo a camisa do PSD. À época, me limitava a ouvir o que papai dizia a mamãe.. 

A UDN ganhava em Itabaiana com Euclides no comando. Eu via a contagem dos votos na Prefeitura Municipal, o resultado de cada urna sendo anotado num quadro negro, na calçada. O  PSD só fazia perder. Via calado. Desde essa época, a derrota sempre me tira o apetite para falar. Ficava só olhando, olhando, depois, me desinteressava e partia para outros mundos, voltando a ser criança. 

Veio 1962 e ai o circo pegou fogo, com a vitória de Seixas, abafando a derrota para a Prefeitura. O que eu não podia imaginar é que, naquela campanha, sob os acordes do rádio, dos comícios diversos em que Seixas esteve em Itabaiana, da contagem mui lenta dos votos, urna por urna, município por município, durante vários dias, fosse a última eleição em que fui para comícios, gritei o já ganhou com Seixas, torci, apostei, e, por fim, telegrafei para parabenizar o futuro Governador do Estado, com direito a telegrama de agradecimento.

Não participaria mais de nenhuma eleição. O PSD morreu com a Revolução Militar, eu cresci, e, quando as eleições voltaram a ser feitas, devo ter assistido a algum comício, de longe, sem nenhuma vibração. O rapaz e o adulto, que tomaram conta do menino da eleição de 1962, perdeu, com o tempo, a disposição para os comícios. Veio a magistratura e representou o afastamento total. A partir daí, só o voto no dia certo.

Jackson Barreto de Lima, que esteve na minha posse na Academia Sergipana de Letras, ao me cumprimentar, frisou que, na cadeira, que passava a ocupar, só pessedista tinha sentado: Carvalho Neto, Cabral Machado, e, agora, eu. Verdade. Só que, em comparação com os dois ocupantes, eu fui o único pessedista que nunca votei em eleição para os candidatos do PSD. Nem votei, nem votaria, completo e acrescento, porque nem aquele PSD dos meus tempos de menino existe mais, e o menino, que tanto se entusiasmou com a candidatura de Seixas, ficou lá para trás, marcado apenas por uma foto na primeira página da Gazeta de Sergipe da época, num comício, numa quarta-feira, em Itabaiana, que papai guardou como se fosse um troféu valioso e está hoje em meus arquivos. Só.