"Infantolatria": a criança no comando das decisões da família

Chega um pai num grupo de amigos e diz: “quem manda lá em casa é o meu filho. Ele manda e a gente obedece”. Ou ainda uma mãe dizendo: “não aguento mais assistir a Peppa!”.

Esse é o reinado das crianças, ou seja, toda e qualquer atividade da família passou a ser definida em função dos filhos como, por exemplo, o canal de tevê a ser assistido, o restaurante que a família vai almoçar assim como o cardápio, os CDs que ouvem no carro, dentre outras coisas.

Por que isso acontece? Por que os pais passaram a idolatrar o filho ao extremo, tornando-o o centro da família, deixando-o no comando de tudo o que acontece em casa. Essa criança passa a ser tratada como rei ou rainha, e o adulto fica na condição de súdito, colocando-se à inteira disposição da criança, eximindo-a de qualquer situação de responsabilidade.

Vale ressaltar que, com a chegada de um filho, não só a família como toda a casa passa a se organizar em função do novo membro. Os primeiros cuidados são de suma importância para o bem estar do bebê. No entanto, à medida que a criança vai crescendo, tudo vai se adequando ao funcionamento da dinâmica familiar na qual a criança está inserida, de modo que regras e limites, dados pelos adultos, passem a ser respeitados, pois esse sujeito viverá em sociedade e, por isso, precisa entender que existe o ‘outro’ com necessidades e vontades diferentes das dele.

Porém, o que realmente acontece? Os pais querem ser amados e aprovados pelos filhos e, por isso, fazem todos os gostos dos pequenos, privando-os de frustrações, não dando os limites necessários, confundindo amor com permissividade. E quem disse que limite é o oposto de amor? Estabelecer limites uma atitude de amor. Assim, se há amor, há limite. Os pais podem e devem exercer sua autoridade sem serem autoritários.

Quando a criança é o centro da atenção na família, ela quer que isso se estenda em todos os ambientes por onde ela passar. Quando começa a frequentar a escola, começa a perceber que existem regras a serem seguidas e que nem todas as suas vontades serão atendidas, podendo até criar aversão à escola, trazendo, com isso, consequências negativas no processo de ensino-aprendizagem.

Como se percebe, além das consequências negativas no âmbito da psicologia, há ainda prejuízos no que se refere à aprendizagem. A criança que vive a “infantolatria” cria a falsa sensação de autonomia e de poder e, desse modo, de quem está no comando de seus pais. Estes, por sua vez, são seus primeiros “ensinantes”. Mas, como aprender com aquele que demonstra não ser capaz de tomar a mais simples decisão? Como, por exemplo, decidir em que restaurante a família irá jantar.  Ora só se aprende com aquele a quem se outorga confiança e que se estabeleça um vínculo saudável e não de submissão. 

A infantolatria é um fenômeno comportamental familiar que provoca sérios prejuízos à formação da criança e à sua aprendizagem, já que afeta seu modo de perceber o mundo e de se relacionar com esse mesmo mundo. Tendo em vista que decorre de uma dinâmica familiar permissiva e compensatória, dada a estrutura das famílias modernas, é preciso estar atentos não só ao comportamento da criança mas também e principalmente à atitude dos pais. É preciso tomar as rédeas da educação dos filhos; não ter medo de estabelecer regras e limites e fazê-las cumprir. Assim o que pode parecer doloroso no momento, na verdade é uma forma de dar instrumentos imprescindíveis aos filhos para que possam estar preparados para viver com qualidade suas relações sociais, afetivas e profissionais.