DISLEXIA : Uma das dificuldades específicas de aprendizagem

Seu filho está com dificuldade em aprender a ler? Puni-lo, castigá-lo, fazê-lo escrever cem vezes a mesma palavra, colocá-lo em um reforço escolar a tarde inteira vai ajudá-lo?

CUIDADO! Seu filho pode apresentar uma dificuldade específica de aprendizagem chamada dislexia.


As dificuldades gerais da aprendizagem têm sua origem em fatores intrínsecos (relacionados a causas de ordem orgânica e psicológica) e extrínsecos (relacionados ao ambiente) ao indivíduo, pois o processo da leitura, como também o da escrita pressupõem aptidões complexas, exigindo que a criança opere em diversos níveis de representação que envolvem diversos sistemas funcionais, integrados neurológica e psicologicamente.


Os aspectos cognitivos envolvidos na leitura vão desde a maturidade perceptiva visual e auditiva, a decodificação da palavra, pelo conhecimento do código escrito (conversão grafema-fonema), à aquisição de conhecimentos contextuais, linguísticos e, ainda, à construção de significações que englobam a compreensão, ou seja, é um processo bastante complexo.


Caso seu filho esteja com dificuldade em identificar as letras (símbolos) e associá-las ao fonema (som) correspondente, ele pode, sim, ter dislexia.


A dislexia é considerada um transtorno específico da aprendizagem de origem neurobiológica, genética e hereditária, que se caracteriza pela dificuldade no processo da leitura, na qual a criança tem dificuldade no reconhecimento preciso ou fluente da palavra, na habilidade de decodificar e em soletrar. É importante salientar que esse quadro pode se manifestar em pessoas com qualquer das inteligências múltiplas e persistir na vida adulta.


Essas dificuldades, na maioria das vezes, resultam de um déficit no componente fonológico da linguagem e não comprometem outras habilidades, possibilitando à criança com dislexia seguir sua vida escolar sem problemas, desde que seja diagnosticada e acompanhada por profissionais especializados.


O diagnóstico é feito por uma equipe multidisciplinar (médico, neuropediatra, fonoaudiólogo, psicopedagogo e psicólogo) e se faz a partir da alfabetização. O professor é o primeiro profissional a identificar os primeiros sinais de dificuldade da criança, ao perceber que a evolução de um determinado aluno está aquém da esperada. Esse profissional deve comunicar ao coordenador da escola e encaminhá-la para fazer uma avaliação psicopedagógica e, também, fonoaudiológica.


É importante esclarecer que crianças que podem ter dislexia começam a apresentar dificuldade na aquisição, percepção e produção da fala. Desse modo, ao ingressar na escola, apresentam dificuldade em identificar letra e som, interferindo no processo de alfabetização, que é prejudicado e, se mal compreendida, pode ser entendida como falta atenção e disciplina do estudante. Por isso, destacam-se alguns sinais de alerta para professores e pais em relação à dislexia nos níveis iniciais de ensino e mais especificamente no nível da convenção escrita da língua, em especial à ortografia.


Na educação infantil a criança que apresenta dispersão, fraco desenvolvimento na coordenação motora, falta de interesse por livros, atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem, dificuldade com quebra-cabeças e em aprender rimas e canções pode ser dislexa. Porém, o caso deve ser levado para avaliação com um especialista.


No ensino fundamental, a criança que demora muito para ler uma palavra, quando consegue fazer uma leitura lenta e pouco fluente, acaba não entendendo o que leu, porque o esforço investido nessa tarefa é tão grande que, na conclusão da leitura de uma dada palavra, não lembra as anteriores, prejudicando gravemente a compreensão leitora.


Os erros ortográficos são visíveis e repetitivos com troca, inversão e omissão de letras. Isso ocorre porque a dislexia prejudica a consciência fonológica do indivíduo, ou seja, a habilidade de discriminar sons parecidos, como, por exemplo, /t/ e /d/.


Além disso, uma criança com dislexia mostra dificuldade com noções de tempo e espaço. Ela demora mais do que as outras para adquirir noção de dominância lateral, temporal e espacial, confundindo direita-esquerda, ontem-hoje, entre outros.   Essa dificuldade atinge, ainda, a memória operacional (memória a curto prazo) que é utilizada quando se recebe, por exemplo, uma ordem longa, a qual o dislexo não consegue seguir por não memorizá-la.


Vale destacar, também, que os sujeitos com dislexia podem ter problemas de se concentrar em atividades que exijam atenção, a exemplo de quebra-cabeças, podendo configurar em um quadro de déficit de atenção no jogo como também no desenvolvimento das atividades em sala de aula.


O tratamento para a criança com dislexia é feito por fonoaudiólogo, psicopedagogo e psicólogo que, em um trabalho de parceria, têm a função conjunta de ajudá-la a superar o comprometimento do mecanismo da leitura. É um processo longo que demanda persistência dos profissionais, dos pais e do sujeito dislexo.