Os quadros de vovó Brasília

Na casa de vov? Bras?lia, na primeira sala, raramente aberta, em meio a cadeiras de palhinhas e alguns moveis enfeitados de estatuetas de cer?micas, o que me chamava a aten??o era o conjunto de quadros dos cinco filhos na parede. No centro, bem redondo, colorizado, o de tio Tonho. De um lado e de outro, agora em preto e branco, em tamanho menor e uniforme, os dos demais filhos, dois em cada lado. Estavam l? todos os cinco valetes, papai, tio Eladio, tio Biba, tio Tonho e tio Dema. N?o havia quadros com fotos das tr?s filhas, o que nunca me despertou a curiosidade de perguntar o motivo. Da sala, era o que me atraia a curiosidade.

Os quadros acompanharam a mudan?a de Itabaiana para Aracaju, nas quatro casas em que vov? morou, sempre no primeiro quarto, a mesma posi??o de antes, o de tio Tonho no centro, o cabelo bem penteado, a cor, que, da verdadeira, guardava distante semelhan?a. Os demais, em idade inferior a quarenta anos, fisionomias de jovens, tio Biba rindo, tio Dema s?rio, tio Eladio em posi??o de artista de cinema, e, papai, o olhar voltado para o fot?grafo, fei??o que n?o guardo na mem?ria por ser de tempo anterior ao meu nascimento ou quando eu ainda era muito menino. Dos cinco, todos cultivavam a foto, no costume, da ?poca, de ofert?-las aos parentes..

Em certa ?poca, ainda estudante de Direito, tive a iniciativa de pedir a um fot?grafo amigo que fosse l?, na casa de vov?, para fotografar o quadro de papai. Foi providencial. Fiquei com uma c?pia que, depois, gerou outras, em tamanho pequeno, e, uma delas, mantenho em meu gabinete. Os quadros, com a morte de vov?, j? vi?va, tomaram destino que n?o tomei conhecimento, ao lado de in?meras fotos de filhos, netos e bisnetos que pendurava e pregava nas paredes da sala, onde o aparelho de televis?o se localizava. Era o seu jardim de fotos.

Hoje, de quando em quando, revistando ?lbuns da fam?lia, rel?quias em meu poder, me deparo com fotos que serviram para a amplia??o dos quadros. Volto, ent?o, a v?-los pendurados na parede da primeira sala da casa de vov? Bras?lia, sempre com acrisolada admira??o. Rostos que as fotos conservaram sempre jovens, hoje todos dormindo profundamente, como no poema de Bandeira, a assinalar um peda?o de vida que a curva do tempo deixou para tr?s.