A CRÍTICA


Por acaso, você conhece alguma pessoa que gosta de criticar? Existem muitas, não é mesmo? Aliás, quase todos nós somos, indevidamente, muito mais críticos do que elogiadores. Lamentavelmente, nós nos sentimos melhor encontrando defeitos do que virtudes.


Não percebemos, mas quando agimos assim, causamos enormes danos: perdemos nós, “os críticos”, perdem-se os nossos relacionamentos com as pessoas e, sobretudo, perdemos aqueles a quem dirigimos nossas maledicências.


Imaginemos o terrível prejuízo que impomos aos nossos filhos, por só acharmos que eles fazem tudo errado e, por isso, criticamos veementemente suas descobertas: “menino, não faça isso”, “menino, não suba aí, porque você pode cair”, “este menino só me dá trabalho”, “êita menino danado!”... Não faça isso, não faça aquilo, não ponha a mão, não ponha o pé, não enfie o dedo… Não, não, não e não. Nunca contei, mas falam por aí que uma criança escuta muito mais reprimendas, críticas e nãos durante um dia, do que palavras de encorajamento, de apoio, de incentivo.


E o que essas admoestações criam nas cabecinhas dos nossos infantes? Elas geram medo, insegurança, sentimento de incapacidade, fraqueza de caráter etc.


Na adolescência, que maldosamente já foi denominada de “aborrescência”, as críticas são as mais cruéis possíveis. Nessa fase da vida, e não por acaso, conhecida como a fase “crítica” pela qual todos já passamos, oportunidade de colheita e de busca de aprendizados, de contestações, de aceitações ou negação dos valores existentes e até dos que virão ainda, é também oportunidade em que nós, os adultos, relacionamo-nos muito mal com os nossos jovens, escolhendo quase sempre criticá-los, quando, talvez, fosse mais prudente, mostrar-lhes o caminho, elogiar alguma iniciativa, evidenciar alguns valores, potencializar algumas atitudes e, sobretudo, ser mais condescendentes com os “erros”, pois eles sempre ocorrerão e todos nós sabemos que os erros cometidos serão degraus para os acertos.


Ninguém está totalmente impossibilitado de fazer algo construtivo, inclusive os nossos adolescentes. Por que, então, não enxergamos esse lado bom deles?


Elogiar o que é bom, bem feito, constrói muito mais do que criticar o que, segundo os nossos padrões, está errado.


Quando um pai recebe o boletim escolar de um filho, por exemplo, qual é a nota que ele percebe primeiro? A nota baixa, ou a nota “vermelha”, como se convencionou. Aí o mundo cai.


A criança ou o adolescente já sabe. Aquela nota “dez” que está logo ali ao ladinho da “vermelha”, os pais não veem, eles enxergam exatamente aquela que o filho queria esconder, pois já está sendo punido, já está purgando uma pena por tê-la no lugar da outra. Portanto, nota baixa é punição.


 Ninguém, por prazer, faz uma avaliação escolar para auferir uma nota baixa. Se isso aconteceu, foi por outro motivo: não estudou, não entendeu, não gosta da matéria, não gosta do professor, não compreendeu as explicações, enfim, não foi por prazer que sofreu aquela sanção.


Imaginemos que, ao receber aquele mesmo boletim, os pais, reunidos, chamassem o filho e dissessem: “filho, estamos orgulhosos de você, pois percebemos que você conseguiu muitas notas boas, vejamos: dez na matéria “X”, oito na disciplina “Y”, um sete na… Você, realmente é muito bom…”.


Garanto que ele mesmo diria: “mas eu não estou muito bem nesta disciplina aqui. Vejam, a minha nota foi apenas…” E daria uma explicação justa e verdadeira para o seu insucesso, isso porque não estaria com medo, diria a verdade. E, asseguro mais, se esforçaria o máximo possível para que aquilo não se repetisse mais.


E, imaginando ainda na maturidade daqueles pais, eles respondessem a seu filho nestes termos: “Que nada, filho, você é competente, na próxima, sem dúvida, você vai realmente superar; isto, para você, vai ser moleza; agora, se você achar necessário, nós arranjaremos um professor para lhe ensinar essa matéria. É você quem vai dizer se é necessário, certo”?


A crítica é também um grande mal quando sistematicamente utilizada entre os casais, professor e aluno, patrão e empregado… Causa, enfim, um dano muito grande nos relacionamentos, por mais sólidos que sejam eles.


Encontrar erro e criticar é a coisa mais fácil do mundo, basta que nos disponhamos a verificar as imperfeitas atitudes das pessoas e das coisas que nos cercam. Seguramente, vamos verificar muitas razões para censurar.


Ninguém é perfeito. Nada que é produzido pelo homem pode atingir o padrão ideal.


Sempre vai sobrar ou faltar algum detalhe, por mais bem planejado, mais detalhado, mais bem executado que seja, não importa que se use a melhor técnica, as mais aperfeiçoadas maneiras de manipulação, mesmo assim não é possível atingir a perfeição.


Então, vai haver sempre uma brecha, um motivo para satisfazer a sanha do censor, do crítico.


No entanto, se for observado o todo, há mais pontos a elogiar do que defeitos merecedores de críticas. Como no boletim do aluno, lá só existia uma única nota “vermelha” e, ao seu lado, encontravam-se muitas outras que estavam dentro dos padrões normais, as quais, sequer foram verificadas pelo pai que, naquele momento, parece que sentiu prazer em sacrificar o seu filho.


Ora, se nunca vamos fazer tão perfeito, devemos esperar sempre que sobre uma fatia de imperfeição para os olhares argutos dos críticos, pois eles existem aos montes na busca dos mais insignificantes detalhes para explorarem como sendo a oitava maravilha do mundo.


 


A crítica é perigosa porque fere o orgulho das pessoas, desestimula as iniciativas, faz estancar processos evolutivos, fere o amor próprio, magoa o seu sentimento de importância, gerando, por conseguinte, desconforto e ressentimento.


A crítica, com raríssimas exceções, coloca o criticado na defensiva, fazendo com que, a partir do momento em que sofreu a ação deletéria da negativa intenção, entre no campo defensivo e procure, por todos os meios, uma justificativa para aquilo que o seu “algoz” taxou de defeito.


Como já vimos, não há nada mais prejudicial num relacionamento do que a crítica. Os pais que criticam as pequenas ou grandes realizações dos filhos contribuem para empurrar a autoestima deles para o nível mais baixo.


De igual sorte, o cônjuge que deprecia as iniciativas do outro, contribui para o desequilíbrio, para a simulação, para a desvalorização e anulação da criatividade, para o desgaste da amizade e do amor, enfim para a destruição do relacionamento.


Nos locais de trabalho, nada mais daninho do que a crítica. Ali, a crítica sufoca, desestimula iniciativas, destrói a boa vontade, inibe projeções, fomenta a mesmice, mata a criatividade.


Quem lidera com base na crítica, nem é líder e nem tem liderados. Não é líder porque jamais conseguirá com que as pessoas sintam prazer em trabalhar, em colaborar, em conviver com ele.


Jamais terá liderados. “Comandará”, sim, bajuladores, incompetentes sem criatividade, copiadores, pois pessoas que se aventuram ou são obrigadas a trabalhar com esse tipo de “chefe”, normalmente estão impedidas de criar, pensar, inovar. Por isso, se fecham, se limitam, transformando-se apenas em autômatos. Vão fazendo aquilo que determinam para ser feito e, sobretudo, que possa agradar e evitar uma reprimenda.


Também incluo os pais nas categorias acima, pois eles poderão ser líderes de seus filhos ou “chefes” de sua prole. E, da mesma maneira, poderão ter liderados ou autômatos…


E não adianta dizer que existem as críticas “construtivas”. A crítica, por mais bem intencionada que seja, cria distensão, desencadeia descontinuidade, desestimula a criatividade e gera ambiguidade nas relações. 


Não esqueçam! Criticar é punir e ninguém gosta de ser punido.