Meu nome e derivados


Começo por revelar que tive sorte. O escrivão poderia ter registrado meu nome de forma diferente. Em lugar de Vladimir, por exemplo, poderia ter saído Valdimir, que, no momento da declaração, meu pai, confiando no oficial, não ia perceber. Ou seja, passei bem pelo primeiro teste. No primário, escrevia Wladimir, destacando o W inicial. No ginásio, de posse da certidão de nascimento, aprendi, enfim, que o meu Vladimir se iniciava com V. Ótimo.  


    Até aí tudo bem. Depois é que os problemas começaram na deturpação do nome. Não por dolo de quem quer que seja. Por erro mesmo, no duro. Alguns, por distração, na citação de um livro de minha sempre [modesta] autoria, copiando meu nome de forma errada, na troca do l pelo a, ou substituindo o primeiro i por e. Assim: Valdimir ou Vlademir. Não uma só vez. Mas, diversas. Bufo de raiva. Revelo.          


    O desrespeito ao nome é algo que irrita a gente. No meu caso, também o trabalho de, sempre que, por qualquer ato, alguém tem de anotá-lo, não consigo me livrar do trabalho de sair ditando, letra por letra, porque, em geral, quando acertam a primeira sílaba [Vla], erram na segunda, trocando a segunda sílaba (di) por de, e, quando não, omitindo o r de mir. Ou seja, carrego a sina de, a vida inteira, estar ditando meu nome, senão... erram!  Porra!        


     Uma vez, homenageado em Itabaiana, meu nome crismando a sede da Secretaria Municipal de Saúde, só sosseguei quando a placa foi descerrada. O nome estava correto. Mas, para minha tristeza, colocaram a partícula de no meio, enobrecendo-o. Virei nobre, sem querer, fruto do erro, embora o comum seja ser chamado de Flaudemir, Flademir, e, ainda, de Vrademir e Vraudemir. Não me seguro. Expludo, se o verbo pudesse ser assim conjugado.                Mas, um dia desses, na leitura de um feito, em meio à relação imensa de nomes, fiz uma descoberta feliz. Encontrei o nome de Vrademir. Vibrei. O nome existe. Um derivado do meu, talvez. Estava lá, a minha frente. Li uma, duas, várias vezes, até me convencer de sua realidade pragmática. Vrademir. Um dos meus tormentos. O nome existia. Ou, pelo menos, eu o via a minha frente, grifado, atribuído a alguém, fosse qual fosse a sua origem.        


      Fora os constrangimentos dos equívocos, uma alegria me invadiu, na Catedral de Buenos Aires, na Praça de Maio, ao me deparar com a imagem de Nossa Senhora de Vladimir, que não conhecia. Gerou-me um argumento. Se já não ia a missa antes, agora, com uma santa com meu nome, sinto-me desobrigado. Cristiane, que é católica praticante, não aprovou a desculpa.