Djonga - NU

        O dia 13 de março ganhou uma importância a mais na vida de Gustavo Pereira Marques, o Djonga. É a data em que há quatro anos ele lança um álbum. Desde 2017, o rapper mineiro tem deixado sua marca na cena nacional com uma sequência de quatro obras de grande importância para o rap e para a música brasileira na década passada.

        Em 2021, ele retorna com Nu, seu mais novo lançamento. Um álbum marcado pelos acontecimentos do caótico 2020 que, assim como na vida de todos, tiveram um impacto enorme no cotidiano do belo-horizontino.

        Sem poder fazer shows e sentindo o peso do cenário sócio-político brasileiro catastrófico, Djonga traz um álbum denso e redondo, com uma narrativa de início, meio e fim que a medida em que avança vai desnudando o íntimo do rapper e mostrando mais do Gustavo. Isso se nota logo na forma como as faixas estão organizadas, começando com “Nós” e terminando com “Eu”.

        “Nu” também é uma obra que não foge das contradições de seu autor. Aqui, Djonga se mostra mais humano, mais vulnerável e fala francamente sobre o sucesso e os acontecimentos que mais o marcaram desde que este se tornou uma realidade em sua vida, entre eles, o show que deu em dezembro do ano passado e do qual foi alvo de críticas pela aglomeração gerada em plena pandemia de covid-19.

        “Nós” entrega toda a força do álbum de cara e soa como um desabafo. São versos despejados como se estivessem acumulados a ponto de explodirem. “Outro dia acordei herói, dormi inimigo”. “O que não querem é ver a gente de cabeça erguida / Quem anda olhando pro chão tem visão limitada”.

        O álbum segue sem perder o fôlego, com momentos como o olhar para a sua trajetória em “Ó quem chega” e “Xapralá”, para dentro de si em “Me dá a mão”; parte para as ilusões do dinheiro em “Ricô” e o romantismo de “Dá pra ser”. Até encerrar com a crueza e honestidade de “Eu” um relato franco sobre como Djonga lida com o lugar tão complexo de um artista celebrado e referência para jovens de todo o país e, ao mesmo tempo, um ser humano falho, cheio de conflitos e inseguranças como todos nós.