Destaques do mês

Rashid - Tão Real

       A definição do novo álbum de Rashid é dada pelo próprio logo no início, um álbum sem conceito, ou mesmo, com “conceito de rua”, ou seja, um álbum forjado na realidade das ruas, do cotidiano e bastante confessional, revelando muito do íntimo do Michel, nome original do rapper paulistano. “Tão Real” é uma obra bastante franca, repleta de versos simples e diretos, mostrando contundência ao falar dos temas mais atuais e reveladores do cenário político-social brasileiro. Em “Não Pode” ele fala sobre a sua trajetória no rap e do quanto o seu sucesso contraria expectativas: “De onde 'cê vem, com a cor que 'cê tem, não pode / Não pode não pode não pode.” Em “Todo dia” os versos que denunciam o racismo vêm com ainda mais força: “Tem noção que a cada vinte e três minuto, uma mãe preta fica de luto / Vidas que vão sem clemência ou tributo / Violência é o produto interno bruto.” Mas o álbum também tem seus hits pop, prontos para serem entoados pelas multidões. É o caso de “Sobrou o silêncio” com Participação de “Duda Beat”, “Bem Loko” com Rincon Sapiência e “Pipa Voada” com Emicida e Lukinhas. “Tão Real” traz várias faces de um mesmo Rashid e sem deixar de ser um álbum honesto e conectado com o que há de mais verdadeiro no Brasil 2020. 

Maria Bethânia Mangueira - A Menina dos Meus Olhos

       Depois de ser enredo do desfile campeão do carnaval de 2016, Maria Bethânia dedica seu mais novo álbum à Mangueira. Em Mangueira – A Menina dos Meus Olhos, a cantora interpreta sambas que marcaram a história da tradicional escola de samba carioca, intercalando com recitais de versos como já é de praxe da cantora em seus shows. Entre as pérolas está  “Luz negra” (Nelson Cavaquinho e Amâncio Cardoso, 1961) e “Sei lá, Mangueira” (Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho, 1968) e o já histórico samba-enredo campeão de 2019 “Histórias pra Ninar Gente Grande” que na voz única de Bethânia ganha uma força ainda maior sendo um dos momentos mais belos da obra. Está presente também o samba-enredo em homenagem a cantora, “Maria Bethânia, a Menina dos Olhos de Oyá” que conta com a participação do irmão Caetano Veloso e do sobrinho Moreno Veloso. Mas ao contrário do que se pode esperar, o samba carioca não é o som dominante, o álbum é um encontro da tradição do samba com a ancestralidade da sonoridade baiana, sendo que esta última é que dá o tom da obra e dá a interpretação da cantora de Santo Amaro da Purificação e as letras dos hinos mangueirenses também um ar de ancestralidade, fazendo uma ponte também com a herança africana. O resultado é uma obra de extrema sensibilidade e que quando apreciada com atenção toca fundo na alma.