Destaques do mês

Silva - Bloco do Silva

    Desde quando surgiu, em 2012, com seu álbum de estreia, Claridão, Silva veio passando por uma grande transformação e amadurecimento no seu estilo, algo intensificado principalmente no seu último álbum, Brasileiro (2018), onde ele deixa de lado as referências do indie rock e apresenta uma sonoridade mais simples, com muitos elementos brasileiros, acústicos e um apelo popular maior. Um direcionamento arriscado visto que, apesar da ampliação de seu público, parte da crítica especializada passou a torcer o nariz para esse novo Silva, o acusando de formulaico e de perda de criatividade. Mas, quando se ouve as musicas recentes do cantor capixaba com atenção e peito aberto, estas acusações se provam injustas. É o que acontece em “Bloco do Silva”, um Show concebido para o carnaval de 2019, mas que fez tanto sucesso que se estendeu durante todo o ano e chega com força total a 2020. No álbum ao vivo predominam as releituras de antigos hits do Axé Music que ganharam um novo fôlego na voz de Silva que se mostrou bastante confortável na interpretação de clássicos como “Me abraça”, “Alô, Paixão”, “Mal acostumado”, “Diga que Valeu”; além da presença de composições de grandes nomes da MBP que ganharam a aura do Axé no show, como “Toda menina baiana”, “Não Enche”, “Eu também quero beijar”. Destacam-se também os arranjos que dão um frescor as canções ao mesmo tempo em que se mantêm fiéis aos originais. “Bloco do Silva” mostra  o potencial que o cantor e compositor tem longe do ciclo indie e com uma atuação popular honesta, sem pudor e sem perder a criatividade.

Céu - APKÁ!

    Após passar pelo turbilhão de emoções da maternidade, Céu nos traz APKÁ!. Um disco batizado pelo seu filho caçula, Antonino (APKÁ! é a palavra que ele grita quando está feliz), e que está conectado tanto com as transformações recentes na vida da cantora quanto com as transformações no Brasil e no mundo, tudo isso embalado por uma estética ao mesmo tempo futurista e retrô marcada pela batida eletrônica e sintetizadores, e a produção de Pupillo e o francês Hervé Salters, parceria vinda do antecessor, Tropix (2016). Logo na abertura, “Off (Sad siri)” ela dá voz à inteligência artificial da Apple, que mostra melancolia ao ver que seu dono a deixou off para aproveitar um dia de sol. A mistura de ficção científica e poesia continua no decorrer do disco. Em “Coreto”, ela usa as ondas do rádio para falar de um amor que não é o suficiente para resistir ao tempo enquanto ela “está cantando mais que nunca o que aflora”. Em “Forçar o Verão”, ela faz uma analogia aos negacionistas e aos que insistem em dizer que está tudo bem com o país e o mundo. “Ocitocina (Charged)” é o relato intenso sobre a experiência do parto natural e do vulcão de sensações e emoções que entra em erupção nesse momento. Nela, Céu se utiliza novamente da tecnologia como analogia utilizando telas e bateria carregada para ajudar a descrever o momento. APKÁ! é um álbum contemporâneo e ao mesmo tempo uma viagem no tempo com referências do passado e reflexões sobre presente e futuro. Um álbum primoroso fruto da sensibilidade aflorada de Céu.