O Aeroporto de Itabaiana

     Desconfortável para quem escreve a tarefa de corrigir os equívocos dos outros, sobretudo quando o erro se situa dentro da história de Itabaiana. Mas, por mais educação que possa predominar, não é possível deixar passar em branco. Eu diria até por um dever de honestidade, para não permitir a inverdade passar por verdade em detrimento da  história real.

     O equivoco está em Sebastião Nery, tendo o artigo O “cabloco” José Serra, divulgado, entre outros, no Diário de Pernambuco de 31 de maio de 2011, que recortei e guardei. Faz referência ao diálogo entre Euclides Paes Mendonça e o brigadeiro Eduardo Gomes, no Rio de Janeiro, tendo o aeroporto de Itabaiana como objeto. Euclides queria ampliá-lo e precisava de autorização do Ministério da Aeronáutica. Sebastião Nery conclui que o aeroporto foi ampliado por conta própria ou de Euclides ou da Prefeitura, em função do brigadeiro não ter concedido de logo, só com o pedido verbalmente formulado por Euclides.

     Pois bem. Itabaiana nunca teve aeroporto. Dizem – e eu ouvi, quando menino, me recordo com absoluta precisão - que Euclides teria fotografado o Aeroporto de Maceió colocando na frente, num truque fotográfico, o nome de Marianga em lugar do de Palmares. Ouvi, mas faço uma ressalva: a época era de divisão entre pessedistas e udenistas, de forma que as conversas devem ser bem pesadas para poder daí brotar a realidade histórica.

     O certo é que Itabaiana tinha era um campo de aviação – este é o termo que também ouvi, na mesma época. E, como prova, estava lá, onde depois, muito depois, seria erguida a sede da Associação Olímpica de Itabaiana e, depois, o Bairro da Torre – que o vulgo apelidou de Lata veia -, a área onde o campo de aviação se estendia, toda plana, cerca do lado da estrada, de arame que não era farpado, cerca baixa, unitária, sem nenhum prédio erguido, piso natural, sem nenhuma camada de asfalto, nem ao menos qualquer lâmpada no solo para servir de orientação ao piloto. Aliás, não tinha nem poste de energia por perto. Escutei muito – e aí recomendo cautela a quem lê – que Euclides usava o campo de aviação para receber recursos federais. Se verdade ou mentira, o peixe está sendo vendido pelo mesmo preço. Tudo é conversa que circulava nas rodas pessedistas de Itabaiana daqueles tempos de divisão partidária tão acirrada.

     De qualquer forma, o falecido e saudoso José Andrade, que estava no Rio de Janeiro à época da morte de Euclides, guardou, durante muitos anos, e eu vi, o recorte de O Globo, noticiando que o assassinato de Euclides ocorreu no Aeroporto de Itabaiana, que, aliás, tinha nome: Aeroporto de Marianga. Na reportagem, a equipe teria ouvido o então deputado federal Arnaldo Garcez, que afirmava desconhecer os motivos do crime.

     Pois entonce. De um jeito ou de outro, o aeroporto de Itabaiana existiu, pelo menos, em nível de notícia nos jornais, podendo ter sido objeto de um diálogo entre Euclides e o brigadeiro Eduardo Gomes, aeroporto que, quase cinqüenta anos depois da morte de Euclides, ainda aparecia como introdutório de um artigo de Sebastião Nery sobre José Serra, mostrando que o político paulista é tão caboclo como foi o brigadeiro Eduardo Gomes, carregando o termo caboclo o significado de sério.

     O interessante de tudo é que o aeroporto, lá em Itabaiana, de verdade, mesmo, no duro, no real, nunca existiu, não passando de um campo de aviação, onde, acredito, avião nenhum, nem dos pequenos, nem helicóptero, nunca, ao menos, pousou, uma só vez, uma sequer, para ficar registrado como fato único e histórico. Mas, graças ao espírito irrequieto de Euclides Paes Mendonça, deve haver, - pode ser, pode ser, nos registros do Ministério da Aeronáutica da época – alguma coisa a respeito. Quem pesquisar, há, por certo, de trazer mais dados à lume, dando vida a algo que nunca existiu.