Das filosofadas na Câmara de Vereadores

No meio de órgãos colegiados, como a Câmara de Vereadores, as filosofadas se verificam com certa frequência. Quando menos se espera, uma bomba explode. Reproduzo algumas, adiante.  Umas, eu assisti, seja na própria Câmara de Vereadores, seja por vídeo; outras, me foram contadas. Pode ser que o fato, das contadas, não tenha sido exatamente assim e assado. O importante é que foi assim que ouvi e conservei.

Vamos lá.

(1) Zezé da Requinta, na condição de Presidente, determina a vereadora Izelt da Fonseca a leitura da ata da sessão anterior: - Leia a ata, comadre Izelt. A vereadora, no mesmo tom: - Pois não, compadre Zezé.

(2) Olimpio Grande chega à feira, no sábado pela manhã, e, mesmo antes de sair de sua montaria, já é alvo de alguns desabafos. A taxa tinha aumentado e a turma chiando. O edil nem sai da montaria e ruma para a Prefeitura, encontrando Jeconias na calçada do fundo: - O que é que tão cobrando tão alto, Jeconias? - A Prefeitura está cumprindo uma lei lançado pelo senhor, seu Olímpio. Tomado de surpresa, Olimpio Grande comenta: - Também eu assino sem ler nada. Olhe no que dá.

(3) Manoelzinho Clemente, ante os projetos e discursos de Joãozinho Marinheiro, pede a palavra para contestar o único edil do MDB: - Vossa Excelência pensa que sou maço de cigarro para me botar na algibeira. Aracaju que é Aracaju, capital do Rio de Janeiro, não tem lei orgânica, imagine Itabaiana.

(4) Raulino discursava na Câmara de Vereadores chamando Wilson do Táxi de hipócrita. O colega agradecia. O fato se repetia e Wilson do Táxi sempre agradecendo. Terminado o discurso, Wilson do Táxi teve a curiosidade de perguntar ao Dr. João Oliveira o significado de hipócrita.

- Falso, sem caráter, sem palavra, etc. e etc. Decepção profunda: - Taí, eu pensei que ele estivesse me elogiando.

(5) O colega pede a Wilson do Táxi para subscrever um projeto concedendo a cidadania itabaianense a alguém. Wilson do Táxi assina, mas reclama: - Tou cansado de assinar esses projetos. Nunca vi ninguém dando o título de cidadão itabaianense a quem nasce em Itabaiana.

(6) Projeto de lei outorgando a uma rua o nome de Dina Monteiro, sem nenhuma justificativa. A assessoria da presidência procura o vereador minutos antes para apresentar uma justificativa no plenário. O vereador a faz: - Ora, é a mãe de Corró.  

(7) A vereadora lança projeto dando a uma alameda o nome de Alameda da OAB. O vereador Vardo da Lotérica lhe dirige uma pergunta: - Essa alameda é viva ou morta? A indagação fica sem resposta. Poderia acrescentar outra, embora não ocorrida na Câmara de Vereadores. Contudo, tem um deles como protagonista principal. Ocorreu no final dos anos oitenta. José Queiroz, então deputado federal, leva alguns vereadores para conhecer Brasília. Escala um cicerone para acompanhá-los no Conjunto Nacional. O vereador itabaianense observa tudo calado, percorrendo os corredores, encantado com as lojas, uma agência da Caixa Econômica, relojoarias, sapatarias, lanchonetes, restaurantes, farmácias, livrarias, papelarias, bebidas em geral, lojas de cd, sorveteria, escada-rolante aqui e ali, etc. e etc. Por fim, abre a boca para um comentário: - Isso é que é Caixa Econômica. Vende tudo. A de Itabaiana é só dinheiro, dinheiro e dinheiro.

Outra, enfim, do eleitor que queria ser candidato a vereador. O chefe político vetou. Ocorreu pressão, pedidos aqui, pedidos ali. O chefe cedeu, afirmando aos presentes: vamos provar que ele não tem voto. Estava certo. O candidato perdeu.