Concepções de aprendizagem: aspectos psicopedagógicos e psicossociais

      Todo e qualquer docente que passa por uma graduação de Pedagogia ou outra licenciatura depara-se com a disciplina Psicologia da Aprendizagem, a qual permite a esses profissionais compreenderem o processo pelo qual o sujeito aprende desde que nasce, perpassando pelo processo de aquisição do conhecimento escolar e outros saberes humanos. São fundamentais, nessa área, as contribuições de estudiosos como Piaget, Vygotsky e Wallon, que desenvolveram suas teorias sobre o desenvolvimento da aprendizagem humana. Para se compreender o processo de aprendizagem e identificar possíveis lacunas que são basilares, também, os estudos da área da Psicopedagogia que asseguram a importância de o sujeito alcançar uma aprendizagem de qualidade, proporcionando intervenções que direcionem um aprender eficiente.

       Para Piaget (1999), teórico do Construtivismo, os princípios da lógica do ser humano começam a se instalar antes da aquisição da linguagem, gerando-se a partir da atividade sensorial e motora em constante interação com o meio, especialmente com o meio sociocultural. Seus estudos ainda dizem que a aprendizagem humana só ocorre mediante a consolidação das estruturas de pensamento. É por isso que a passagem de um sujeito (criança) de um estágio para outro depende da consolidação e da superação do estágio anterior, progredindo para respostas cada vez mais complexas, numa sucessão de estados de equilíbrio-desequilíbrio-equilíbrio.

      Já Vygotsky (1998), teórico do Sociointeracionismo, afirma que não há desenvolvimento pronto e previsto dentro de cada ser humano, já que nesse processo estão presentes a maturação do organismo, o contato com a cultura produzida pela humanidade e as relações sociais que permitem a aprendizagem. Logo, sua teoria dá ênfase às relações sociais e à linguagem no processo de aprendizagem e desenvolve o conceito de zona de desenvolvimento proximal (ZDP), que justifica a disparidade entre os indivíduos no que se refere à capacidade de aprender. A ZDP é a distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial de cada sujeito. Nessa perspectiva, como uma criança aprende? Num processo de leitura, por exemplo, a criança ao identificar a junção de b+a como ba e l+a como la, precisará de ajuda formar a palavra bala. Logo, ela tem uma capacidade em potencial de aprendizagem que ainda não é real, mas que está próxima de acontecer.        Para Wallon (2007), a aprendizagem relaciona-se com o desenvolvimento da individualidade como unidade afetiva e cognitiva dos sujeitos, por isso acredita que o estudo do desenvolvimento humano deve ser feito na sucessão das etapas e conflitos no decorrer da vida, sendo que a linguagem e a cultura fornecem ao pensamento as ferramentas para sua evolução. Assim, sua interação com o mundo biológico não depende apenas do seu amadurecimento intelectual, mas de habilidades mais complexas para o sujeito interagir com seu meio.

     Tais teorias fundamentam também a Psicopedagogia, cujo objeto de estudo é o processo de aprendizagem humana. Nessa área, consideram-se três aspectos de suma importância para o desenvolvimento do sujeito: o aspecto pedagógico, centrado no desempenho escolar; o aspecto cognitivo, centrado na avaliação de como está o desenvolvimento cognitivo do aprendiz de acordo com os estágios de desenvolvimento apresentados por Piaget; e o aspecto afetivo-social que engloba o vínculo de aprendizagem formal e relações interpessoais.

       Para Fernandez (2001), é imprescindível analisar como o indivíduo se relaciona com o conhecimento. A essa relação, a autora chamou de modalidade de aprendizagem, isto é, o esquema em operar que vai sendo utilizado nas diferentes situações de aprendizagem. Nesse sentido, cabe destacar que cada pessoa possui uma modalidade de aprendizagem singular e que é importante avaliar o sujeito como um todo inserido nos mais variados contextos, recebendo as informações sociais e culturais desse ambiente.  Sabendo-se que o sujeito poderá conformar seu saber de forma adequada ou não, a depender de sua estrutura singular, cabe evidenciar a importância de recorrer à psicologia social e à psicopedagogia, a fim de entender o que acontece com esse sujeito no processo de aprendizagem e quais as intervenções adequadas para sanar ou amenizar dificuldades encontradas. Por isso, não julgue seu filho caso ele apresente dificuldade em aprender, pois há vários fatores (cognitivos, pedagógicos e afetivo-sociais) que podem estar interferindo nesse processo. A boa notícia é que há meios de ajudá-lo a encontrar seu próprio caminho para aprender. Para isso, leia, informe-se e busque os profissionais especializados.